Carl Barks, nasceu em 27 de março de 1901, e faleceu em 25 de agosto de 2000. Foi um grande cartunista dos Estúdios Disney, tendo criado a cidade Patópolis e algum de seus habitantes mais famosos: Tio Patinhas (1947), Gastão (1948), Irmãos Metralha (1951), Professor Pardal (1952), Maga Patológika (1961), entre outros.
É possivelmente que Carl seja o único quadrinista a ser considerado perfeito. Exagero? Roteirista, desenhista e arte-finalista de várias histórias da Família Pato dos Estúdios Disney, e pintor extraordinário, Barks foi responsável por fazer mais que definir a personalidade de seus personagens e alçá-los ao estrelato. Pode se dizer que ele humanizou o Pato.
De acordo com a descrição de Carl de sua infância, ele era uma criança bastante só. Seus pais possuíam uma milha quadrada (2,6 km²) de terra que serviu como sua fazenda. O vizinho mais próximo vivia a meia milha (800 m), mas ele era mais como um conhecido dos pais de Barks do que um amigo. A escola mais próxima ficava a aproximadamente duas milhas (3 km) e Carl tinha que caminhar aquela distância diariamente. A área rural tinha poucas crianças, porém, e Barks se lembrou que sua escola só tinha mais uns oito ou dez alunos.
A maior parte da reclusão de Carl era passada em sua biblioteca, já que os livros eram uma paixão que o acompanhava desde a infância. E graças a eles o desenhista pode praticamente recriar civilizações antigas que eram pano de fundo para as viagens do Tio Patinhas. O artista costumava dizer que viajara o mundo inteiro graças a seus livros, e tinha boas recordações de todos os lugares que "visitara". Seu detalhismo ao retratar templos ou monumentos criava paisagens tão verossímeis e belas que pareciam ser a transposição de uma foto acrescida da emoção da arte. Em outras ocasiões, essa profundidade decorria exclusivamente de sua imaginação, pois lugares nunca descobertos pelo homem moderno como as minas do rei Salomão ou a sala do tesouro do rei Minos I da Grécia - ou até paisagens mitológicas como Asgard ou Cólquida e paragens de sua criação, como a fantástica Quadradópolis - sugeriam uma notável impressão de realidade e familiaridade. Entretanto, essa captação das imagens que pareciam vívidas apenas em nosso inconsciente não era o único destaque no traço do artista. Os patos ganharam em suas mãos, um visual mais simpático e carismático, ficando mais gordinhos e dotando-se de expressões mais maleáveis e humanas, com o exagero sendo usado de maneira precisa.
Inicialmente Tio Patinhas era um coadjuvante nas histórias de Donald, o velho sovina foi ganhando cada vez mais espaço e projeção até ter sua revista própria em 1952. Esse crescimento de popularidade foi proporcionalmente acompanhado de um ganho de profundidade na personalidade do personagem, que teve sua história definida, da primeira moedinha (que guardaria como talismã para o resto da vida, sendo alvo de cobiça da feiticeira Patalójika) aos incontáveis bilhões que o levariam a possuir uma caixa-forte para guardar seu dinheiro.
A futilidade de Margarida era utilizada por Barks para ironizar os radicalismos machismo/feminismo, além de render clássicas tiradas sobre relacionamentos. A mais antológica delas está na história "O Fazedor de Chuva" (The Rainmaker, link no fim da página). Quando Donald liga para Margarida convidando-a para um passeio e ela recusa por já estar comprometida em sair com o primo do próprio namorado (honesta a pata, não?), ele é abordado pelo "Monstro de Olhos Verdes", que lhe atira um vaso de "essência de fúria" para que ele tome uma atitude drástica. A cena toda é uma citação ao acesso de fúria de Otelo na peça epônima de Shakespeare, quando o mouro veneziano se diz atormentado por um "monstro de olhos verdes chamado Ciúme". Espetacular!
O melhor no texto de Barks era seu humor imprevisível. Apesar das intrincadas sagas envolvendo tramas históricas e do cinismo irônico que era empregado contra o materialismo rutilante dos americanos, nada era tão soberbo quanto sua finesse e mordacidade para criar frases de efeito ou finais fascinantes. Dentre as frases, é impossível listar todas ou mesmo algumas, visto o volume de texto que seria necessário para contextualizá-las. Mas vale citar uma, quando Donald, descrente quanto ao funcionamento de uma forquilha mágica que já se provara eficiente, resmunga: "se essa porcaria achou água, só pode ser o esgoto do inferno". Já os finais, esses eram a especialidade de Carl. Podiam ser ridículos, mas de uma lógica incontestável; óbvios, mas de uma forma na qual jamais pensaríamos; ou mesmo (e muito comumente) inesperados, os finais imaginados por Barks sempre subvertiam as expectativas do leitor e tornavam cada uma de suas histórias uma experiência única como um livro, mesmo que às vezes de poucas páginas.
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